quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Brasil tipo exportação



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Michel Teló já é sucesso nas paradas internacionais: sem quererAmando ou odiando, é quase impossível ignorar o fenômeno Michel Teló, sucesso nos EUA e na Europa

Difícil não começar este texto com os versos "Nossa, nossa, assim você me mata/Ai se eu te pego, ai, ai se eu te pego" - só para deixar a matéria engraçadinha, com a cara do jornalismo moleque, jornalismo de várzea. Mas é que eles já estão em todo lugar: nas rádios, na internet, nos toques de celular e até nas conversas de bar, onde também estão nas caixas de som ambiente. Além disso, a música "Ai se eu te pego", na voz do paranaense Michel Teló, ultrapassou as fronteiras do Brasil e fez dele o mais novo integrante da lista de artistas brasileiros que alcançaram o sucesso fora do País.

Aos 45 minutos do segundo tempo de 2011, a composição dos baianos Sharon Acioly e Antonio Dyggs - dois visionários, diga-se, que já tinham pensando na carreira internacional ao escolher seus nomes artísticos - começou a ganhar o mundo. O empurrão inicial veio do jogador Cristiano Ronaldo, que fez a coreografia da música ao comemorar um gol em campo. Depois, um vídeo do tenista Rafael Nadal fazendo a mesma dancinha numa festa particular também caiu na rede. Aí vieram soldados israelenses, jogadores americanos de basquete, flash mob na Itália, versões em inglês, francês e uma supostamente em guarani. Em países como Espanha, Bélgica, Itália e Holanda, a música já ultrapassou nomes como Adele e Coldplay nas paradas. Teló já prepara até um dueto com o rapper Pitbull, autor do hit "I Know You Want Me (Eu sei que você me quer)".

Atenta, a revista americana Forbes publicou um artigo ("Você já ouviu falar sobre o fenômeno sertanejo brasileiro Michel Teló? Pois vai"), no qual afirma que "é muito difícil para uma celebridade brasileira tornar-se uma estrela internacional". No texto, a revista lembra de artistas como Carmen Miranda e Xuxa. Além disso, compara a trajetória de Michel, que teve mais de 100 milhões de acessos no YouTube, com as de Justin Bieber e Rebecca Black, dois "fenômenos da internet".

Nessa semana, a revista Época deu a capa ("Ele ainda vai te pegar"), editorial e 12 páginas para o cantor, que teve sua rotina e origens dissecadas pela reportagem. Foi o estopim para uma um série de discussões nas redes sociais. De um lado, os que acham vergonhoso a música estar representando o Brasil no exterior; do outro, gente dizendo que o sucesso é legítimo, independente do gosto musical de cada um.

Até o tecladista da banda Los Hermanos, Bruno Medina, resolveu opinar. Em "Carta aberta a Michel Teló", texto postado em seu blog (g1.globo.com/platb/instanteposterior), Medina usou como exemplo a noite de Réveillon com familiares e amigos para criticar a exaustiva execução da faixa cantada por Teló. "Afinal, eu mais do que ninguém sei o que é estar a frente de uma canção que fugiu do controle. Na época em que ´Anna Júlia´ foi lançada, ao menos, não havia YouTube, o que certamente poupou nossos detratores da infindável proliferação de clipes da música, protagonizados por bêbados gregos dançando em Ibiza ou por italianos solitários cantando o refrão pegajoso em frente a webcam", escreveu. As duas músicas, aliás, ganharam até um mashup.

Em resposta a Bruno, Tico Santa Cruz, líder dos Detonautas, escreveu "Anarquia de Michel Teló", no blog de sua banda. "Achei divertido a forma (sic) como se disseminou e simpático como um artista que provavelmente nunca imaginou que isso pudesse acontecer, enquanto outros já estavam com milhares de estratégias montadas para atacar o mercado internacional, cheio de regras e com especialistas programando tudo minuciosamente, conseguiu chegar lá", opinou.

Neste hall, em diferentes graus, podem ser incluídos os nomes de Sérgio Mendes, Tom Jobim, Sepultura, Seu Jorge e, mais recentemente, o Cansei de Ser Sexy (CSS, para os gringos).

No meio do caminho

O sucesso no Brasil, em sua extensão continental, por vezes turva a vista de certos artistas. É aí que muita gente tenta dar um passo mais largo que as pernas. Pois, como diz o famoso disco de Elvis Presley, 50 milhões (ou um pouco menos que isso) não podem estar errados. O problema é que vencer a natural resistência dos norte-americanos para a música de outros países não é uma tarefa simples. E, com uma estratégia ruim, o êxito é quase impossível.

Que o diga a multiplatinada dupla Sandy & Junior. Os filhos de Xororó tentaram emplacar uma carreira internacional, em 2002, quando lançaram o álbum "S&J Internacional". Entusiasta do potencial da dupla, Max Hole, alto executivo da Universal Music e então diretor de marketing da gravadora na Inglaterra. Ele queria que os brasileiros se tornassem uma versão do século XXI dos Carpenters, açucarado duo norte-americano, onipresente nas paradas da década de 70. Para a produção, chamaram cinco produtores, entre eles, Simon Franglen, que já havia trabalhado com Madonna e Michael Jackson. Mas, o sonho de Hole não se concretizou. O disco vendeu bem no Brasil, com quase um milhão de cópias, e se saiu bem em Portugal, onde a dupla já tinha fãs, e no México. Passou batido nos EUA, centro irradiador do sucesso na música pop, que viu neles apenas uma dupla de latinos fazendo sons similares ao das boy bands. Depois disso, Sandy & Junior desencanaram e continuaram faturando alto com turnês pelo Brasil.

O fracasso da dupla deu uma freada nas pretensões dos popstars brasileiros. Pouca gente teve coragem depois disso. Ivete Sangalo até acenou para esta possibilidade. A baiana gravou um DVD no majestoso Madison Square Garden, de Nova York, em 2010, mas foi massacrada pelo New York Times. O crítico musical Jon Pareles destacou os méritos da "maior cantora pop do Brasil", mas ponderou que seria difícil emplacar com um ritmo difícil de acompanhar e caçoou das músicas cantadas em inglês.

Fracassos relativos (afinal, renderam muito, muito dinheiro no Brasil) que fazem pensar sobre a chance de duas das melhores bandas de rock do País: os Mutantes e Secos & Molhados. O trio tropicalista até chegou a gravar um disco para sua carreira internacional, "Tecnicolor", em 1970. Canções em inglês, francês e português compunham um dos melhores trabalhos do grupo, mas que foi engavetado e só foi lançado em 2000. Curiosamente, o disco foi o estopim do revival dos Mutantes e de sua descoberta pelo mercado internacional. A "psicodelia brasileira" coleciona fãs lá fora desde então.

Já a antiga banda de Ney Matogrosso parou ainda antes. Em 1973, o disco de estreia dos Secos & Molhados vendeu 300 mil cópias em dois meses e logo alcançou a marca de 1 milhão de discos vendidos. Algo que, por aqui, só Roberto Carlos conseguia. A Continental, hoje Warner, sonhou em fazê-los emplacar mundo afora, na onda da androginia e do glam rock. O grupo, corroído por brigas, acabou antes, em 1974. Quanto tempo durará Michel Teló?

DELLANO RIOS/FILIPE PALÁCIO
EDITOR/REDATOR

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