sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Obra da transposição modifica jeito de viver no interior de PE e PB


Centenas de sertanejos tiveram que abrir mão de suas terras, animais e plantações ao longo dos 700 quilômetros de extensão por onde vai passar a transposição do Rio São Francisco. Desde 2010 o trabalho estancou e a vida das pessoas também. Há cinco anos, elas receberam a visita de equipes do projeto da transposição e combinaram o valor das indenizações. Algumas negociaram terreno, cerca, benfeitorias em geral e também receberam pela própria casa. Outras preferiram trocar a casa no sítio por uma nas vilas produtivas rurais que seriam construídas.
O açude da família do agricultor José Hélio de Souza terminou dividido em dois – a quantidade de água ficou reduzida a 40% e a fábrica de rapadura, fundada há noventa anos, quase fecha. “A gente precisa da água pra irrigar a cana, a gente sobrevive da rapadura. O que eu peço é que eles tomem providências sobre esse açude que há mais de 150 anos meu avô, o pai, tanto trabalharam pra deixar aí pra gente e hoje tá sendo coberto por pedra”, afirma. As terras de José Hélio ficam no lote 7 de transposição, em São José de Piranhas, na Paraíba. Nesse ponto, a obra avançou apenas 15%.
O agricultor Francisco Miguel de Souza nasceu na comunidade do Riacho da Boa Vista, que vai desaparecer para dar lugar a uma barragem. Ele espera a casa na vila, da qual não tem notícia – quando negociou a propriedade com o governo, teria sido orientado a não reformar nem plantar. “Se nós for fazer, perde a benfeitoria que for pra fazer nessa casa”, explica. O agricultor João Alves de Souza reforça: “Tá com cinco anos que nós não colocamos roça, nem tem milho, nem feijão, nem arroz, nem dia de serviço. Vivendo assim só com o poder de Deus”, se queixa.
Isolamento
Com a migração das pessoas para o centro, foi chegando a sensação de isolamento nos povoados. Em um local onde havia dezoito famílias, restaram somente quatro, deixando os dias cheios de incerteza e insegurança. “Eu tenho medo por causa desse negócio de assaltante, essas coisa, né? É meio perigoso”, conta o agricultor José Firmino. O agricultor aposentado José Florêncio do Nascimento é viúvo e mora sozinho em uma casa de taipa. Ele gastou o dinheiro da indenização com um tratamento de saúde e não vê a hora de se mudar. “Com 20 reais aqui o cara tem medo de sair de casa. O povo aqui carrega bicho, quem tem bicho aí nos terreiros – eu não, que eu não crio nada”, relata.

0 comentários:

Postar um comentário

Capa de Jornais

Seguidores

Eventos e Premiações

Leia mais...

Arte e Cultura

Leia mais...

Educação

Leia mais...

Polícia

Leia mais...

Transito

Leia mais...